domingo, 6 de abril de 2008

O Brasil esta salvo dos terremotos?

O Brasil está a salvo de terremotos?

Brasil não está a salvo de terremotos Geomorfólogo elabora mapa que aponta áreas de risco de abalos no território nacional


O público leigo, de forma geral, aceita a idéia de que o território brasileiro está a salvo de terremotos. No meio científico, porém, há relatos de abalos sísmicos no Brasil desde o início do século 20. Uma pesquisa recente sobre o tema contribui para diminuir o fosso entre o senso comum e a realidade científica: uma equipe coordenada pelo geomorfólogo Allaoua Saadi, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, elaborou o Mapa neotectônico do Brasil e identificou a existência de 48 falhas-mestras no território nacional. "É justamente ao longo do traçado dessas falhas que se concentram as ocorrências de terremotos", explica Saadi.


O Mapa neotectônico do Brasil identifica as falhas existentes no território nacional (clique na imagem para ampliar e acompanhar a legenda)




As regiões que apresentam o maior número de falhas são Sudeste e Nordeste, seguidas por Norte e Centro-Oeste e, por último, Sul. O levantamento foi feito a partir da análise de mapas topográficos e geológicos, imagens de satélite e radar, pesquisa de campo em várias regiões e consulta a dados bibliográficos e pesquisadores de todo o país. "Identificamos as falhas mestras, mas ainda existem muitas outras pequenas", afirma Saadi.



Representação esquemática dos diferentes tipos de falhas (rachaduras que recortam a crosta terrestre)


Terremotos constituem uma resposta a rupturas da crosta terrestre provocadas pelo deslocamento dos blocos (subdivisões das placas tectônicas) ao longo de uma falha. As rochas comportam-se como corpos elásticos, deformando-se e acumulando energia proveniente do contato e do movimento entre os blocos. "No momento da ruptura, a energia 'represada' durante o período de acumulação do stress anterior é liberada de uma só vez ou em episódios mais ou menos próximos", esclarece Saadi.
Os grandes abalos ocorrem principalmente na região de encontro entre as placas, onde se localizam as falhas maiores de escala continental. O globo terrestre é constituído por doze placas e o território brasileiro está totalmente situado no interior da Placa Sul-Americana -- daí a idéia de que não haveria tremores de terra no país. No Brasil, os terremotos intraplacas, onde o tamanho das falhas tem dimensões variadas, costumam ser mais brandos e dificilmente atingem mais de 4,5 graus de magnitude. Porém, ainda precisam ser mais estudados. No início do século 20 um terremoto de grandes proporções -- 8 graus -- ocorreu na costa leste dos Estados Unidos, região de atividade sísmica semelhante à do Brasil.



Danos nas áreas urbana e rural de João Câmara (RN) ocasionados por tremor de terra em 30/11/86 (fotos: Observatório Sismológico/UnB)


"Comparados aos da região andina, situada exatamente na fronteira entre a Placa de Nazca e a Placa Sul-Americana, os abalos sísmicos brasileiros são menos freqüentes e intensos", explica Saadi. Eles não devem, no entanto, ser desprezados. Há registros no Brasil de terremotos com magnitude acima de 5 graus. Em 1986 a cidade de João Câmara (RN) foi palco de vários tremores que chegaram a destruir e danificar cerca de 4000 casas.
"A diferença entre os abalos depende dos contextos locais, continentais e global", explica Saadi. Os sismólogos de todo o mundo precisam, portanto, manter intercâmbio constante. O mapa de Saadi integra o Programa Internacional da Litosfera, projeto de pesquisa mundial com o objetivo de levantar as estruturas tectônicas em atividade no planeta e prever catástrofes. O máximo que pode ser feito, no entanto, é indicar os possíveis locais sujeitos a abalos. "É impossível determinar com precisão quando e com que intensidade os terremotos podem ocorrer", explica Saadi.

Nenhum comentário: